No final de 2018, após oito anos trabalhando na área de Design de Moda, pedi demissão do trabalho que estava na época.

Em casa, após um sonho inusitado, buscava algo que me desse sentido enquanto despretensiosamente esboçava as primeiras linhas de O Uivo do Trovão sem fazer ideia do que se tornaria.

Noite após noite os meus dedos ansiavam pelas teclas do computador mais do que qualquer outra coisa e aos poucos, as linhas se tornavam páginas e então as páginas se tornaram um livro completo.

Foi uma hemorragia de palavras que não poderia mais calá-las dentro de mim, porque a verdade é que essa história não começou em 2018…

Em 1994, eu tinha apenas sete anos quando o primeiro desses personagens se apresentou sendo o melhor amigo que eu poderia ter. Seu único defeito era existir apenas em meus pensamentos.

Sempre fui uma criança solitária e no intuito de me distrair da verdade, que às vezes era dolorosa, criei um mundo paralelo. Aos poucos, outros personagens surgiram para habitá-lo. Recortava páginas de revistas e desenhava tentando dar-lhes um rosto. Exceto o primeiro deles, cujo o rosto talhado sempre me foi muito claro.

Qual era o sentido de manter-se os pés no chão se eu poderia voar longe dali com a minha mente? Passei anos criando histórias na minha cabeça, enquanto os adultos a minha volta tentavam desesperadamente me trazer de volta pra casa. Pra mim, aquela casa não era meu lar, os devaneios eram meu lugar.

Aprendi a andar com os pés no chão me atendo a fazer o que “tinha que ser feito”. Emprego após emprego minha saúde, física e mental, se esvaia até tornar-se insustentável a minha permanência.

Em 2018 resolvi por um ponto final nessa história para então recomeçar diante de uma folha em branco.